Quebrando a quarta parede!

Autorretrato com espelho
esférico (MC Escher, 1935)

O teatro é formado por três paredes, que compõe o cenário da trama. Uma traseira (a principal) e nas laterais, sendo essas secundárias e nem sempre usadas, mas que também servem para cobrir a fuga dos atores e é assim desde o teatro Kabuki japonês ou o The Globe de William Shakespeare.

A quarta parede é a ligação do público com os atores. Uma parede invisível onde as pessoas olham o que está acontecendo em palco. A quebra dessa quarta parede ocorre quando o personagem descobre-se personagem, obtendo a consciência de que ele é personagem! E isso acontece em diversas mídias, seja TV, animação, HQs, etc.

Um dos primeiros exemplos históricos de quebra da quarta parede foi feito pelos dramaturgos gregos, na qual a plateia se relacionava com a ação ocorrida no palco. À isso pode ser adicionado o fato que, em histórias posteriores, os deuses desciam dos céus para interagir com seres humanos, assim que nasce o Hércules, que na realidade, é um Semideus originário do relacionamento entre Zeus e uma humana, o mesmo ocorre com as Ninfas e outros seres fantásticos.

Há vários tipos de quebra de quarta parede, dependendo da relação com o "mundo real":

Visões de Quixote, Octávio Ocampo,
2006

Quarta Parede completamente sólida: Ocorre quando os personagens (note-se: sempre estamos falando de personagens, nunca de atores) acreditam estar no mundo real. Um exemplo, nesse caso, é a série de dois livros Dom Quixote (1605 e 1615) de Miguel de Cervantes. Por mais que o Don Quixote crie ilusões, como combater moinhos de vento achando que são dragões ou pensar em salvar a princesa Dulcinea (na verdade, uma camponesa), o seu assistente, Sancho Pancha, sempre tenta-lhe mostrar o real das ações e anteve as consequências dos seus atos que acontecerão caso ele realmente o faça e geralmente, ele faz e toma uma dura depois.

Quarta parede visível: Na qual os personagens agem como tal (personagens), mas não sabem se há um público que os assiste. Um exemplo disso é um monólogo, na qual o personagem fala sozinho para um público, mas não faz diferença se ele está lá ou não. Talvez também seja o exemplo desse blog, no qual eu estou escrevendo aqui, mas não sei se tem gente lendo, por mais que as visitas aumentem. A única forma de quebrar essa quarta parede é comentando. Mais um exemplo: Na trilogia O Senhor dos Aneis (1954 e 1955), Frodo é o autor da história e ele escreve o livro em simultâneo com o próprio autor, JRR Tolkien e há dois trechos que dizem: "Você e eu, Sam, ainda estão presos nos piores lugares da história, e é muito provável que alguns vão dizer neste momento: 'Feche o livro agora, meu pai. Não quero ler mais nada.'".

Mônica. Editora Globo nº232.
Outubro de 2005

   Quarta parede semipermeável: Há um narrador na história, mas ele não expressa seu ponto de vista. Pode ser também quando os personagens respondem a cartas de leitores, fora da trama ou também, quando o autor interage com os personagens ou quando o personagem sabe que ele é um personagem e isso o torna sob esse ponto de vista, um louco junto aos outros personagens. Dois exemplos: Maurício de Sousa entrando no mundo dos personagens no caso da interação ator-personagem e no caso do personagem tendo consciência de que é personagem, são o DeadPool e a She-Hulk.

 Quarta parede inexistente: o personagem tem a consciência de que faz parte de algo ficcional e interage com o leitor e principalmente, com o autor. A inexistência de quarta parede também implica ao personagem atacar o leitor. Um exemplo mais direto é a série Dora, a Aventureira para crianças até 9 anos, na qual ela aguarda por 10 segundos a resposta da criança. Outro que fala diretamente ao leitor é Dante, n'A Divina Comédia no livro do Purgatório.

E na escola?

Na escola, em aulas expositivas, o professor geralmente passa o material na lousa, explica a matéria e pronto, acabou. Quando o aluno questiona o professor sobre a matéria, pronto, a quarta parede está quebrada. Outra forma de quebra da quarta parede acontece quando o aluno e o professor se interagem, de forma que cheguem a um resultado prático igual. Há ligação entre o criador (ou seja, o professor) e o público (os alunos).

Com o tempo, prometo falar sobre intervenções no ramo de história da arte.

Fonte: TVTropes